Os dias que correm produzem gente esquisita, pensa o homem que sábado bem cedo demanda transporte para a terra, olho no casal de idosos: ele, óculos escuros, destes de feira, que de tão grandes o aparentam a um moscardo negro; ela, andar acocorado nuns sapatos muito altos, esquelética saia curta, a mostrar o umbigo tatuado, a cueca.
De repente, dobra a esquina um fulano de fato claro e chapéu, magrote, já na casa dos setenta. As mãos para a frente sugerem segurar rédea forte, ele montado em fogoso corcel invisível, insubmisso, tais e tantas as piruetas, cabriolas e volteios desenhados no passeio.
Mais à frente, na entrada do Teatro Nacional, um fulano dorme num colchão de bebé: pés no fofo, a cabeça sobre a pedra. Outro ressona, sentado, caixote de cartão encarapuçado até à cintura. E um cachorro muito preto, enroscado no frio, na magreza, olha guloso a gaivota madrugadora que devora uma pomba, quente ainda.
– Uma desgraça, a Batalha – observa, a caminho da camioneta para a feira dos 4, a mulher gorda, de muletas. Atrás, nada diz a acompanhante, cabeça enterrada num fardo de bugigangas. A mascar chiclets.
in Histórias de passagem, Augusto Baptista
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