Enigma 1193
Porque é que as nuvens não despejam a água às baldadas e optam pelo modo poético de chover?
Augusto Baptista
sábado, 31 de dezembro de 2016
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
terça-feira, 13 de dezembro de 2016
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
domingo, 4 de dezembro de 2016
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
sexta-feira, 25 de novembro de 2016
terça-feira, 22 de novembro de 2016
sexta-feira, 18 de novembro de 2016
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
sábado, 12 de novembro de 2016
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
domingo, 30 de outubro de 2016
terça-feira, 25 de outubro de 2016
segunda-feira, 24 de outubro de 2016
sábado, 22 de outubro de 2016
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
quarta-feira, 19 de outubro de 2016
terça-feira, 18 de outubro de 2016
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
domingo, 16 de outubro de 2016
terça-feira, 11 de outubro de 2016
quarta-feira, 5 de outubro de 2016
segunda-feira, 26 de setembro de 2016
sábado, 17 de setembro de 2016
segunda-feira, 12 de setembro de 2016
quinta-feira, 8 de setembro de 2016
quarta-feira, 10 de agosto de 2016
domingo, 7 de agosto de 2016
domingo, 31 de julho de 2016
segunda-feira, 13 de junho de 2016
Enigma 1129
Quem diz ao jacarandá quando é o tempo de florir?
Augusto Baptista
Quem diz ao jacarandá quando é o tempo de florir?
Augusto Baptista
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domingo, 10 de abril de 2016
quarta-feira, 6 de abril de 2016
A noite das facas longas
Abre o bilhete, dobrado em quatro, que ele lhe deixou sobre a mesa. Lê, dissimuladamente:
Espero-a esta noite. A porta da rua fica encostada. Seja cuidadosa, que ninguém a veja entrar. Eu próprio tratarei da ceia. Uma receita da minha falecida avó: carne esfaqueada em tiras, chouriço de sangue golpeado, uma cabeça de alho esmagada, batata a murro. E prometo-lhe sangria, à luz de velas.
Volta a dobrar o bilhete em quatro. Com a ponta e mola corta o papel aos bocadinhos, corta o papel aos bocadinhos, corta o papel aos bocadinhos, e decide arriscar.
ab
segunda-feira, 4 de abril de 2016
sábado, 2 de abril de 2016
sexta-feira, 1 de abril de 2016
quinta-feira, 31 de março de 2016
O mergulho
Olha a íngreme sucessão de degraus, devagar faz a ascensão penosa. Atingida a prancha principal, prepara o salto: ergue os braços, flecte ligeiramente as pernas, logo num impulso vigoroso voa para diante, para cima. Desenha uma curva exacta e, veloz, o corpo em prumo irrepreensível, silva para o poço mais fundo – detesta falhar projectos – e, em rigoroso ângulo recto, fere a imaculada superfície azul. Ainda a cheirar a tinta fresca.
a.b.
quarta-feira, 30 de março de 2016
terça-feira, 29 de março de 2016
segunda-feira, 28 de março de 2016
sexta-feira, 25 de março de 2016
quarta-feira, 23 de março de 2016
Enigma 1111
O gancho do capitão era ox ou inox?
Augusto Baptista
O gancho do capitão era ox ou inox?
Augusto Baptista
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terça-feira, 22 de março de 2016
segunda-feira, 21 de março de 2016
sábado, 19 de março de 2016
sexta-feira, 18 de março de 2016
quinta-feira, 17 de março de 2016
terça-feira, 15 de março de 2016
segunda-feira, 14 de março de 2016
domingo, 13 de março de 2016
Enigma 1100
Porque é que os cães fogem a ganir Caim! Caim! e não Abel! Abel! ?
Augusto Baptista
Ao longo de dias, semanas, meses, anos: mil e cem enigmas, publicados em azul-canário.
Um extenso questionar, o espanto polifacetado de existir. E, vendo bem, uma ínfima amostra afinal dos mistérios que nos habitam, que habitamos, formulada em interrogações às vezes humoradas, outras nem por isso, construções lógicas ou desconchavadas, desafios, palavras e sentidos emaranhados nos labirintos do discurso.
Tempos idos, quando o universo das magicações publicadas rondaria a centena e meia, saiu a primeira edição de ENIgMATÓgRAFO, raríssimo livrinho de textos e desenhos. Se a tanto me consentir o engenho, a paciência, a capacidade de cobrir os custos, a vida, será chegada a hora de uma dilatada segunda edição de ENIgMATÓgRAFO, para que esta entrelaçada teia de pontos e nós indecifráveis não se esfume.
Tempos idos, quando o universo das magicações publicadas rondaria a centena e meia, saiu a primeira edição de ENIgMATÓgRAFO, raríssimo livrinho de textos e desenhos. Se a tanto me consentir o engenho, a paciência, a capacidade de cobrir os custos, a vida, será chegada a hora de uma dilatada segunda edição de ENIgMATÓgRAFO, para que esta entrelaçada teia de pontos e nós indecifráveis não se esfume.
Veremos.
Entretanto, novos enigmas vão surgir aqui, talvez na razão directa de insondáveis desígnios pessoais.
sexta-feira, 11 de março de 2016
quinta-feira, 10 de março de 2016
terça-feira, 8 de março de 2016
segunda-feira, 7 de março de 2016
domingo, 6 de março de 2016
sábado, 5 de março de 2016
sexta-feira, 4 de março de 2016
quinta-feira, 3 de março de 2016
quarta-feira, 2 de março de 2016
segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016
quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
domingo, 24 de janeiro de 2016
sábado, 23 de janeiro de 2016
quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
domingo, 17 de janeiro de 2016
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
À entrada do Mercado do Bolhão,
quadro insólito: um homem, boné do Futebol Clube do Porto, gravador ao peito,
auscultadores nos ouvidos, a cantar. A cantar e a bater com as canadianas: o
acompanhamento musical. Uma orquestra de muletas, um vocalista desafinado, a
espantar os transeuntes. E há mãos comovidas a caminho dos bolsos, dos
porta-moedas. Outras não.
O performer do Bolhão
Estou aqui a dar carinho às
pessoas, a animar o povo. E as pessoas reconhecem, gostam, dão gorjetas. Só de
olhar para mim ficam alegres, depois eu falo em certas coisas.
Mãe que partiste
e não voltaste
mas deixaste
o teu retrato tão lindo.
Mãe o teu retrato
é tão lindo
parece que me está ouvindo.
Eu dantes cantava em Valongo, nas
paragens. E também cantava aqui, mas desde as eleições para a Câmara comecei a
cantar só aqui. O Melo, presidente da Câmara, podia ser de que partido fosse,
mas era uma jóia de pessoa. Agora este que para lá foi não me deixa cantar e eu
vim para o Porto. Na Internet apanharam-me e estou em todo o mundo. Dantes era
cantor de Valongo, agora puseram-me também cantor do Bolhão.
Eu francamente não precisava de
andar nestas coisas, mas tenho pena das pessoas. O padre da capelinha das almas
já me conhece, e o bispo, até os que andam a estudar para padre estiveram aqui
e disseram que eu estava a fazer um papel importante. Quando estou a cantar cantigas da igreja até me vêm as
bagadas aos olhos.
As pessoas têm muito amor à minha
pessoa. Vem gente do Sobrado, de Valongo, vem tudo aqui. Ainda hoje Ai você nasceu em Valongo e anda aqui?
Deixei Valongo porque lá não sabem respeitar as pessoas. Aqui tem mais coiso.
Lá não há aquele carinho como aqui. Uns pagam por causa dos outros. Aqui até as
pombas me conhecem.
Dou-lhes pão aos bocadinhos. Se
eu lhes der aos bocados grandes, elas entalam-se. Alguns dão pontapés nas
pombas. E eu digo, As pombas não fazem
mal a vocês. Vem um, pumba, dá biqueiro, vai outro caço-lhas, metem-nas
no bolso e levam-nas para casa. Já vi um gajo a dar de comer e a caçar nas
pombas, a meter ao bolso e a levá-las.
Sou portista, graças a Deus
Os benfiquistas, quando eu estou
a cantar, ficam danados. Sou portista, graças a Deus, desde que tinha cinco
anos. Sou do Porto há 63 anos. Lembro-me do Miguel Arcanjo, do Marujo, daqueles
jogadores que já estão no outro mundo. E o Yustrich, o Pedroto. Eu sou do tempo
do Monteiro da Costa, do Jaburu, Gaston, Valdemar, Carlos Duarte, Acúrsio,
Hernâni, Barrigana. Sou desse tempo.
Rosas brancas
como tu não há igual
o Porto é o maior
dos maiores de Portugal.
Os benfiquistas não gostam que eu
cante. Já chamaram a polícia para me autuar. Uma mulher veio aqui atirar-me com
água, o pai dela anda a vender rifas. Trouxe um balde de água e atirou-me.
Também o gajo da loja é um ranhoso, é
um benfiquista ranhoso. Metia-se comigo, não sabe respeitar as pessoas, mas
desde que o Benfica foi eliminado da taça UEFA nunca mais apareceu.
Um chegou à minha beira e disse Se você tivesse um cachecol ou um chapéu do
Benfica dava-lhe uma gorjeta. E eu disse Olhe, eu não quero gorjeta do Benfica. Olhe o céu, eu assim para
ele, olhe o céu, o azul, o azul e branco.
É muito lindo, é a cor de Deus. Deus também é azul e branco.
Há três que vêm aqui todos os
dias chatear-me. São dois trapalhões e mais um, equipado, usa óculos e tem a
mania que é o maestro. Para aferroar dizem que o Benfica é campeão e que o
Porto anda de caganeira. E eu digo, A
caganeira passa, mas vocês dão carne podre à águia. Ide pagar o que devedes. O Porto é o maior. O Porto ganhou tudo. O
Porto ganhou 20 taças Cândido de Oliveira, o Benfica ganhou 2, o Sporting
ganhou 7, o que é que vocês querem? Nem o Real Madrid tem uma Taça Intercontinental. Só o Porto. O Porto ganhou a
Taça das Taças, uma Taça Intercontinental, dois Campeões Europeus, duas taças
UEFA: seis. E o Benfica? Dois Campeões Europeus no tempo do Salazar.
Em Valongo são padeiros
em Sobrado lavradores
em Lordelo marceneiros
a terra dos meus amores.
Sou da terra dos móveis: Lordelo,
Paredes. Os de Paços de Ferreira aprenderam a arte com os de Lordelo. Trabalhei
como entalhador. O meu avô é de Valbom, também entalhador. De móveis. De todas
as madeiras.
Sei mogno, sei eucalipto, sei
castanho, sei de toda a madeira que calhar. Século XVII, século XVIII. Trabalhava
com goivas, caixobi (o que faz a
gravação), o martelo, não é martelo é maceta. E muitas goivas. Palheta 1, 2,
estreitinhas, mais largas, formões. Para cima de umas 50 peças. As peças eram
minhas. Eu deixei isto há mais de 20 anos, deixei lá numa mala. Na família
também aprenderam a arte comigo e levaram a ferramenta, compreende. Os meus
irmãos também os ensinei. E gente de fora. Às vezes pediam-me e eu ensinava-os.
Eu trabalhei em casa do Madaleno, em vários. Fábricas que tinham uma média de
50 empregados. Um era Quinzinho, outro era Jardim Ferrinha. Eu às vezes
trabalhava à peça em casa. Agora a coisa de entalhação foi abaixo: é tudo obra
lisa. E eu também não posso trabalhar por causa da coluna e tudo o mais. Caí,
fiz operação à anca, tenho a perna inutilizada.
O assobio
Estive na tropa em Moçambique. Em
Tete, Beira. Era de uma companhia de Apoio Directo: mecânicos, bate-chapas,
carpinteiros. Fazíamos tudo. Na tropa estive no ano de 1969 e vim em 1971. Eu
era soldado. Tinha a escola de cabos, compreende, mas de certa maneira houve um
problema na companhia. Cheguei dois minutos atrasado na formatura e mandaram-me
cortar o cabelo. Eu agarrei e não deixei cortar o cabelo, são coisas que
acontecem. Deram-me cinco dias de detenção. Depois, em Tete, no refeitório, não
deixei fazer pouco. Lá um chefe de mesa começou a mandar comigo e deram-me mais
três dias. Quilharam-me, ao cabo não.
Depois houve mais um problema:
estava de Oficial de Dia o capitão de outra companhia, que a mim não encarava,
e queria que eu acusasse um gajo. O capitão disse: Você estava na caserna tem de saber quem era. E eu disse: Não sei, eu não vi, eu até podia estar na
casa de banho. O gajo era de Vila do Conde, eu não queria prejudicá-lo,
compreende. Os gajos de Vila do Conde alto lá com eles. São os de Vila do Conde
e os alentejanos e os madeirenses. O gajo tinha dito Quem quer ir ao cu ao oficial de dia que dê um assobio. Mas eu não
disse ao capitão quem foi.
Direitos iguais
Alguns não me encaram. Não
respeitam quem está no seu trabalho a dar carinho às pessoas, aos idosos,
juventude, turistas. Há mulheres que ficam com ciúmes por verem as idosas a
darem-me beijos. Há um que tem um clarim e uma mala e tem dinheiro dentro a
entusiasmar as pessoas. O clarim dele dá muito barulho, eu tapo os ouvidos. O
ceguinho que toca na esquina já foi escorraçado da Batalha. É ceguinho, mas é
uma jóia de pessoa.
Olhe, àquela senhora que vem aqui
roubaram-lhe a carteira:
- Oh
minha senhora, noutro dia roubaram-lhe a carteira.
- Roubaram-me
a carteira com a minha reforma.
Tive pena e emprestei-lhe o que
tinha. Eu também fui roubado. Roubaram-me uma sacola de couro. Foram os do
Benfica, não foi mais ninguém. Mas piores que os do Benfica são os da droga.
Eu tenho pena das pessoas, eu
francamente já telefonei para os bombeiros irem buscar idosos. Caíam lá na
estrada e eu apanhava-os. Eu tenho muito crédito em Valongo, nos bombeiros e
tudo o mais. Mas há mais de um ano que eu não canto lá. Deixei. Lá tem pessoas
que não têm mentalidade e eu, para não me chatear... O presidente da Câmara não
é da minha cor. Eu sou militante do PSD. Durão Barroso, Santana Lopes, todos me
conhecem. Já estive com eles. Estive com eles no Coliseu, estive com eles em
Valongo. Às vezes dizem-me, então tu és pobre e és do partido dos ricos? E eu
respondo Então os pobres não têm os mesmos
direitos que tem um rico?
Até os netos
O meu nome é António Ferreira
Coelho. Mas, na terra, todos é por Leite que me conhecem. O meu falecido pai
era russo e naquela maré puseram-lhe Leite, por ser russo. Tenho 68 anos.
Casei, tive de tratar da minha vida e tudo o mais. Tenho seis filhos, três
casais. Eles não querem que eu ande a cantar, mas quem manda sou eu. A minha
mulher está assim um bocadinho da cabeça e eu não estou para me chatear por
causa dela. Há coisas muito mal compreendidas e quando as pessoas, os filhos,
querem mandar nos pais desta maneira e daquela. A mãe deu-lhes muito abuso. E
têm mais amor à mãe do que ao próprio pai. Depois há certas coisas, compreende,
em casa é tudo vermelho, tudo mouro. Até os netos são do Benfica.
Fotografia e texto Augusto Baptista (texto redigido após conversa com António Ferreira Coelho, meados de
2015; fotografia concretizada nesse período, em diferentes momentos)
ver: YouTube o cantor de Valongo
ver: YouTube o cantor de Valongo
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
domingo, 10 de janeiro de 2016
sábado, 9 de janeiro de 2016
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
sexta-feira, 1 de janeiro de 2016
Ode ao gato
com que olhas
de alto a baixo
os poderosos
os avalias
num desdém
a roçar a impertinência.
bate papos com o sol
este sol do sul
luminoso e quente
e me pergunto
de que falarão vocês
enrolados
um no outro assim
que assuntos calorosos
vos retêm tão entretidos
pela tarde adiante.
Canto a eloquência
dos teus discursos de silêncio
os enunciados
libertários que proclamas
no roçagar
do teu corpo
em labaredas
entre as pernas
dos homens
das mulheres
e guardo segredo
das coisas
que escutas
e me confias.
Canto este tempo
de pirilampos e malmequeres
pequenos sóis que alegram
os cabelos das raparigas
e tu pequeno príncipe
das trevas
que tudo vês
e sabes
de olhos fechados
libidinoso
a ronronar-lhes
no colo.
Canto a partícula cósmica
que um dia foste
e de longínquas paragens
saltou
fascinada
por esta bola
azul às voltas
salto timorato
de quem não mede
tempo nem distâncias
siderais
nem avalia as consequências
astronómicas
dos impulsos instintivos
um pulo de cortar a respiração
sete vezes
e
vertigem
de estrela cadente
grão de pó
ou ainda menos
desde os confins
do espaço
sideral
do tempo
sem memória
riscando o céu
em fogo
i
n
f
i
n
i
t
a
m
e
n
t
e
se fez
forma
animal
aqui
caindo
de pé.
De pé
como as árvores
que não tremem
diante do machado
e se inquietam
com o trinar
dos pássaros.
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