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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Histórias de Coisa Nenhuma e outras Pequenas Significâncias

Finalmente o patrão mandou-o entrar. Chapéu escuro entre mãos claras, Herodes, o escriturário, postou-se em frente da secretária.
— Então que há?
— Peço imensa desculpa, senhor Tavares... Tomei a liberdade de vir lembrar que estamos no Natal (silêncio). E era para o senhor, nesta quadra tão (roda o chapéu entre dedos), fazer o favor de não se esquecer...
Olhou para o velho, condoeu-se. Lembrou-lhe alguém familiar. Mas recuperou o sangue-frio.
— Todos os anos a mesma lengalenga. Ó homem, olhe bem para mim. Acha-me com cara de menino Jesus?! Olhe bem!
Olhou. A cara redonda, as bochechas alvas, quase transparentes... A manjedoura... Fazia sentido: o senhor Tavares era o menino Jesus! E ele? Que fazia ele diante do menino? Que mantos reais lhe cobriam o corpo mirrado? Para quê a cimitarra erguida entre mãos, o gume, fulminante, a projectar-se para baixo?
In Histórias de coisa nenhuma e outras pequenas significâncias, pág. 98, Augusto Baptista

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Humor ao alto XCVI

Sondagem de opinião

Em cada 5 portugueses, 10 são contra.
In Histórias de coisa nenhuma e outras pequenas significâncias, pág. 100, Augusto Baptista

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Humor ao alto XCV

Histórias de Coisa Nenhuma e Outras Pequenas Significâncias


Pegou na folha, resoluto.

Minha muito Amélia querida:

Reflectiu. Solução demasiado possessiva. Outra folha.

Muito Amélia querida:

Muito Amélia... Não ia perceber. Outra folha.

Amélia querida:

Pouco e muito. Afinal, apesar de sempre juntos, nunca nada... Depois, as idades, a diferença de letras. Tentou:

Querida:

Querida, uma violência! Assédio: processo e rua! E optou por fazer como ela dizia, sempre lúcida, no despacho: "Nada como dormir sobre os assuntos!"
Pela manhã, mais prudente, resolveu o caso. À primeira:

Excelentíssima Senhora Doutora D. Amélia Leão
Digníssima Chefe da 3.ª Repartição de Finanças

Veneranda Senhora:

In Histórias de coisa nenhuma e outras pequenas significâncias, pág. 15, Augusto Baptista