Abordou o balcão decidida a tratar de tudo e embarcar nessa mesma noite ainda. Perguntada pelo destino, de tão perdida, pediu ajuda.
Propuseram-lhe Austrália, vida selvagem, cangurus; o mar azul-ferrete dos Açores; Ásia, o ar puro dos Himalaias; América, cordilheira andina, vestígios incas; África, o arrepio do deserto do Calaari.
Deixou-se tentar pelo Brasil poético: preço a não arruinar o orçamento, opiniões encorajantes. E correu para casa, ultimar detalhes, que o tempo urgia.
Breve, assento fofo de primeira, perna esticada, nos joelhos uma manta grossa e, entre mãos, aberto, o passaporte a franquer a viagem: "Poesia Errante: derrames líricos, e outros nem tanto ou nada", de Carlos Drummond de Andrade.
In O caçador de luas, edição gatopardo 2003, pág.20, Augusto Baptista
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