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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Confronto

Peito à mercê, João. Inclemente, António prime o gatilho. O cão, avanço tenso, fere o fulminante. Como esperado, a acção percutora desperta na pólvora dormente uma reacção demencial. Envolta em névoa de gases compressos, a lamber a alma estriada do cano, a expandir-se em detonação na boca, na boca da arma, a bala!
Na brevidade de um ui, destino precordial, o projéctil ousa anatómico percurso: rompe a pele, a fáscia superficial, a fáscia profunda, rasga o grande peitoral, insinua-se no quinto espaço intercostal, rasga a musculatura breve, penetra a fáscia endotorácica, o saco pericárdico, dilacera o ventrículo direito numa desmesura negra...
Coração a fibrilar, desconexão caótica de impulsos e espasmos, olhos esbugalhados, indicador tenso, João prime o gatilho, inclemente. Peito à mercê, António. O cão, avanço tenso, fere o fulminante. Como esperado,
In O caçador de Luas, pág. 100, Augusto Baptista

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