Em passeio de família, a mão-de-vaca mais o pé-de-boi foram dar uma volta com a mãozinha-de-vitela. Onde vão, onde não vão, foram ao talho, para conhecer. E lá entraram, todos os três, o pé-de-boi à frente, as mãos atrás.
Para quem até aí só conhecera o mundo verde, a vida tinha ali a cor complementar. Entre véus vermelhos, carnes vivas, miudezas, vitualhas, entrecobertas com paninhos e toalhas cor-de-sangue.
A mãozinha-de-vitela na sua inocência por ali andava, irrequieta, a saraquitar. Por perto, a mãe. O pai ao largo.
A páginas tantas, deu no olho à mão-de-vaca, grandes, dois olhos de carneiro mal morto, bicho careca. Estava no gancho, a espreitar! Dependurados, penduricalhos.
Depenados, crista alçada, os frangos, mais de vinte, esticados no galanço. E os coelhos, grandes, gordos, tudo pelado, ao monte, carne com carne. Que sítio é este? E a mão-de-vaca cingiu a mãozinha-de-vitela.
Piscar venéreo, o néon. Tesos, os chouriços. E um presunto, rançoso e negro, barba por fazer, curtido em tinto e fumo, partes barradas com colorau, venal, sabido, a acenar com os presunhos… Olho vigilante, a mão-de-vaca, safanão na mãozinha de vitela: Não se mostra os dentes a desconhecidos! E cornos no ar: Onde pára esse pé-de-boi?!
Vidrado nos tons de vermelho, no desfrute da cor, ruminante, o pé-de-boi deambulava solitário. Eléctrico, acorda num sobressalto de mão familiar: Anda, isto não é sítio para a mãozinha. E entredentes: Depois falamos…
Em tropel, iam já a sair pela soleira, afligidos agora por um mesmo mau pressentimento, quando uma mão sinistra as unhas se lhes crava. Vermelho vivo, a todos três. E os mete numa saca aos xadrezes.
In “Histórias de coisa nenhuma e outras pequenas significâncias”, Augusto Baptista
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