Nos clássicos movimentos de um cumprimento, a mão do doutor Proença desprendeu-se. Acidente: que, no aperto de dona Josefa, não houve ardor.
Ao sentir coisa grudada aos dedos, num gesto de automática defesa a senhora sacudiu. Projectada, a mão do doutor Proença caiu, enérgico desamparo, no empedrado.
Ganhando brusca consciência do caso, sem cuidar da mão, dona Josefa desfez-se em desculpas e perdões. Alheio, olhar na ausência, no coto, o doutor Proença aquietou:
— Deixe, minha senhora. Que havemos de fazer? É a vida.
De repente, desperta pelo magnânimo desprendimento, acirrada pela culpa (que não teve), dona Josefa apressa-se, calçada abaixo. Quando, ofegante, chega à margem, já a mão do doutor Proença, a vogar no rio, é um aceno.
In O caçador de luas, pág. 60, Augusto Baptista
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