Era um tipo terrivelmente supersticioso. Perdia a cabeça só de pensar certas coisas.
Teve uma infância feliz, cresceu sem traumas. Mas, adulto, começou a dar-lhe aquilo. Recorreu a psiquiatras, psicanalistas. Fez terapia regressiva, exorcismos, acupunctura. Meteu-se ou meteram-no, nos chás e beberagens, astrólogos, macumba, candomblé, djambi, videntes e nos bruxedos mais clássicos.
Em vão! Até ao fim da vida, persistiu naqueles pavores supersticiosos, fechado em negativas epilépticas, transido de medos parvos. E, em sexta-feira 13, nunca foi capaz — entre outras recusas piegas — de meter a cabeça debaixo da pata do elefante ou, pasme-se!, de dar um beijo, um simples beijinho, na boca do tubarão.
O caso só não teve consequências laborais porque o dono do circo era irmão do domador.
In Histórias de coisa nenhuma e outras pequenas significâncias, pág. 56, Campo das Letras, Augusto Baptista
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