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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

MOSTRA AS COXAS, MEU AMOR

Passo-me com o modo como te sentas à borda do lago nas tardes de sol e – chama-me velho tolo – fico vidrado com o que consigo adivinhar do torneado das tuas coxas entre a folhagem. Confesso que nessa hora maldigo as vegetais cortinas que imprecisam a visão de ti, a tornam insuficiente, me consentem uma avaliação frouxa, um incompleto desfrute, eu ávido do sensitivo gozo de te perscrutar, te percorrer por baixo ao pormenor.
E é adivinhação o exercício a que me entrego, incendiado de lascivos pensamentos, viagem que me ensandece, com partida nas tuas coxas, volto a insistir. Às vezes, confesso, não chego a perceber se nessa tua ocultação, nesse teu recato por detrás da folhagem, não haverá aí da tua parte uma propositada castigação do meu embevecido deslumbre pela tua natureza feminina, pelo que se expressa no entremeio doce, misterioso, das tuas coxas.
Peço-te uma angélica distracção, quando sentada: soergue meu amor um pouco a coxa – uma delas, tanto faz –  cria um leve desvão, um vazio pequenino, negro, que tudo deixe adivinhar, nada perceber, e, no auge da suspeição, da suspensão, não mexas, não mudes de posição, ou põe-te um bocadinho mais a jeito, para eu beber em ti o veneno da visão que busco e que mereço.
Estas confissões de velho tolo, que nunca chegarão ao teu conhecimento, segredo meu, encerram a esperança de um dia cederes a esta incontida tentação de te romper, penetrar a intimidade, te possuir nos olhos, viajar pelas sombras e esplendores de ti, mergulhar nos insondávei mistérios que guardas onde eu não os posso enxergar, nos negros imos das tuas coxas, volto a insistir, e nos fluidos livres, que nelas navegam nas profundezas, nesse abismo fiável, aquietante, lugar de abrigo, porto seguro, colo bom, regaço nesta selva de ameaças, onde guardas, sei lá, a extrema unção de um ventre primordial, regenerado. Um sorriso. Talvez o Éden.

Por aqui me retenho, sem mais dizer, agradecido aos deuses por me terem dado o dom de ver. E por te terem feito assim divina, feminina, terem modelado tão perfeitamente as tuas apreciadas, as tuas lendárias coxas, volto a insisitr. Te terem feito rã.
Augusto Baptista

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