O Porto é um
espaço aberto ao coração, de muitos modos. Aqui abordo a sinalética cordial que
brota no casco urbano, tónica em paredes, fachadas, tapumes das zonas centrais
do burgo. Presenças voláteis, quase sempre: inesperadas se acendem, se apagam.
A crónica destes instantes visuais a acho
relevante e está por fazer. Sem nos enredarmos em juízos estético-legais,
importante, insisto, seria coligir e preservar tais documentos, resgatá-los ao
esquecimento, guardar o fulgor dos precários pirilampos gráficos que iluminam
este presente, as margens do tempo que passa.
Com carácter
não-sistemático, enfoque que peca pela insuficiência do trabalho de campo,
publico algumas coloridas pulsações, colhidas na cidade por estes dias. Avultam
sínteses de pendor elaborado e poemas
gráficos minimalistas. Generoso oferecimento de mãos anónimas aos olhos do Porto. Património fugaz. Precioso. Que todos olham, poucos vêem. Ninguém
guarda.
Fotografia e texto
Augusto Baptista
Nota
A temática gráfica nas paredes do Porto a tratei também em azul-canário: "Os gatos e a cidade 3 - Graffiti felino"
azulcanario.blogspot.com/2012_06_01_archive.html
Só mesmo o teu "olho" clínico..........quase que nem precisava de texto !
ResponderEliminarExcelente meu irmão, excelente !!!!!!!!!!!!!
AR
Só surpreenderá quem não te conhecer...Grande desafio a nós outros ("Que todos olham, poucos vêem. Ninguém guarda.")
ResponderEliminarTalvez por serem minimalistas sejam tão interessantes.
ResponderEliminarE a porta fechada deixou os corações de cabeça para baixo, ou de pernas para o ar... quanto abandono no bater da porta!
ResponderEliminarLindas fotos. Nas questões de amor também é quase assim: muitos dizem sentir, poucos sabem o que é e menos ainda cuidam!
O Porto é a cidade dos poemas gráficos. E de outros que se encontram a cada esquina: nas portadas, nas sacadas protegidas com varandas de ferro forjado - os design do ferro forjado são simplesmente muito belos -, nos azulejos, nos jogos de luz/sombra/penumbra das ruelas, nos tulipeiros que no início de verão retiram do céu o azul mais azul - lembro-me do funeral de Eugénio de Andrade em Junho de 2006: o tulipeiro que ele amava e que fica perto do local onde o seu corpo foi velado, estava carregadinho de flores azuis, para o poeta do azul e do branco da cal. O Porto é a cidade de sons que a aproximam de nós: o som do eléctrico nos carris, as badaladas dos sinos/relógios de algumas das igrejas...É uma cidade de religiosidades diversas, também elas poesia. O profano e o sagrado vivem de mãos nadas nesta cidade. E toda esta poesia foi/é construída pelas gerações passadas e pelos viventes. O teu texto está uma beleza e as imagens valem por mil palavras.
ResponderEliminarentão vê-se que no Porto começam a fazer como "Lá fora".
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