Os verdes anos passou-os na cidade fechado em gabinetes, estufas alcatifadas, submetido a regras, horas certas, gravata. Tudo lúcido, exacto. Sem Sol. Depois a reforma, o campo, os pássaros, árvores, a contemplação por detrás da cortina para não recozer a pele, as mãos sobre a bengala, o tempo a sobejar.
Às vezes a família vinha visitá-lo, olhos de relógio. Conversa, a de sempre, quase só silêncios. Na hora da despedida, uma vez não se conteve, falou. Falou e disse, a olhar os campos mirrados no bafo da tarde, hoje estou triste, disse, numa poética campesina que ninguém ali alcançou, sequer procurou compreender, disse, fixo nos frutos engelhados, tontos, hoje estou triste como um tomate.
in o homem que, pág. 39 Augusto Baptista
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