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quinta-feira, 8 de julho de 2010

O homem que congelou

Vestia-se de escuro, conjugações que articulavam preto-brilho e preto-baço, a estabelecer uma harmonia negra que revelava inesperado vivo escarlate, a cor dos lábios. As sobrancelhas tinham presença, sob uma franja de corte rectilíneo, desenhada na fronte de curva adocicada. Esguio, o rosto, a pele clara, e os olhos não sobressaíam nem se apagavam, eram presença que se olhava de passagem, e se retinha: uma sombra iluminada.

E havia o busto, desenho calmo, natural, a aflorar discreto. Sob o vestido, nudez macia, adivinhada. Nos pés suaves, sapato de leve inclinação embalava o conjunto num enleio.

Demorada lentidão, ela passando, num impulso imperativo ele pensa interceptá-la, perguntar-lhe baixinho as horas. Mas, tudo tão rápido, mal teve tempo de a ver passar.

In o homem que, pág. 19, Augusto Baptista

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