Os jornais avisaram: seria a manhã mais fria do século. Cauteloso, enroupou-se como nunca: pijama, camisolas, casacão, sobretudo, cachecol, calça grossa, luvas, gorro. Saiu, bateu a porta.
Mal pisa a estrada, um fogo gelado na sola dos pés lembra-lhe o esquecimento. A chave? Sem recuo, decide correr assim até ao emprego.
No percurso dolorido cruza-se com um vulto apardaçado. A bater o dente, diz bom dia. Em resposta, um grunhido, logo vidrado, logo caído, logo partido em estilhaços no chão gelado. Ele aos saltinhos, com medo de se ferir nos pés descalços.
Augusto Baptista
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