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terça-feira, 31 de maio de 2011

Novas parábolas

Era uma vez uma floresta de muitas árvores, cruzando ramagens, raízes, canto de pássaros. Houve um tempo de fogo. E a floresta se fez deserto de troncos mirrados, em pé. Logo um tempo de ventos, um tronco caiu. Caindo, tombou outro tronco, este tombou mais um outro, estoutro arrastou muitos mais.
Era uma vez um canto de pássaros.
In Elucidário Oblíquo do Reino dos Bichos, pág. 32, Augusto Baptista

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quebra-cabeças

O enigma de uma pulga no colarinho de Sua Excelência.
In Elucidário Oblíquo do Reino dos Bichos, pág. 41, Augusto Baptista

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Cavalo-com-arções

Especialidade hípica em que a besta se apresenta imobilizada, sob o cavaleiro aos pinotes.
In Elucidário Oblíquo do Reino dos Bichos, pág. 12, Augusto Baptista

terça-feira, 24 de maio de 2011

Vírgula

Sinal gráfico a indicar pausas. As pausas do bobi, ao longo do trajecto.
In Elucidário Oblíquo do Reino dos Bichos, pág. 50, Augusto Baptista

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Quase

Pedrada que por um triz falha o alvo a depenicar o ervilhal. Exprime-se em metros.
In Elucidário Oblíquo do Reino dos Bichos, pág. 40, Augusto Baptista

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Xantóptero

Sujeito de asa amarela, seja tacho, xícara ou panela, tucano, colibri ou libelinha, cavalo alado, arcanjo ou foguetão.
In Elucidário Oblíquo do Reino dos Bichos, pág. 51, Augusto Baptista

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Enguia

Criatura que quanto mais se aperta menos se agarra.
In Elucidário Oblíquo do Reino dos Bichos, pág 16, Augusto Baptista

quarta-feira, 18 de maio de 2011

WC

Houve um tempo na cidade em que o 52 parava na Praça junto a umas árvores, galhos negros a regurgitarem à noitinha de frutos chilreantes: o alarido da pardalada antes de adormecer. A céu aberto, nos ramos sobranceiros, o WC.
Na paragem do autocarro, pandemónio. Entre os alvejados, o alívio dos pterossáurios estarem consabidamente extintos.
In Elucidário Oblíquo do Reino dos Bichos, pág 50, Augusto Baptista

terça-feira, 17 de maio de 2011

O homem que cortava a direito

Os amigos recordam-no, saudosos, como um homem recto, cidadão que, face a contrariedades, não perdoava: se os calos o magoavam, vik!; se lhe doíam os dentes, vuk! A última vez que foi visto queixara-se de uma leve dor de cabeça.
In o homem que, pág. 29, Augusto Baptista

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Brisas domésticas

Está-se a levantar um vento... Isto dito, já ela vogava no ar, sem que alguém lhe pudesse valer, algo houvesse para se agarrar. Longe, pensou: Se ao menos o vento amainasse. E logo caiu: sobre a cama, por sorte.
O homem, concentrado nas palavras cruzadas, limitou-se a reflectir: Não pode beber tanto ao jantar. E foi indo fechar a janela.
Augusto Baptista, Maio 2011

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A viagem

Perseguiam destino ondulante: ele enredado na rota do Vale Sombrio; ela obstinada no trilho do Cabeço Iluminado. Deram o nome de André à experiência peregrina.

Augusto Baptista, Maio 2011

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O homem que era um pai babado

Os miúdos aprendem a escrever cada vez mais cedo, facto positivo, mas que não deve ser tomado como valor absoluto, a ponto dos encarregados de educação baixarem o nível de exigência linguística, tolerarem grosseiros atropelos ortográficos. Ainda há pouco, o Aniceto, já quase com um ano de idade, assinava o nome com dois ss, ante o gáudio do paizinho!
In "o homem que", pág. 63, Augusto Baptista