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terça-feira, 1 de março de 2011

Ordenamento

Vencidas as imperativas etapas, consumaram-se. E tantas eram que formavam um denso manto de asas trémulas a agasalhar a dona, da cabeça aos pés.
Quando saíam, a cidade sobressaltava-se. À passagem da multidão, nas tardes quentes, sobretudo, entre alas de plátanos e canto de pássaros, o trânsito encrespava-se, cresciam buzinas, impropérios, e os peões estougavam o passo, nauseados.
Um dia, mobilizaram-se as forças da ordem. Com bulldozers, fumigadores, moto-serras, machados. E a urbe pôs fim à conspiração volátil.
No desafogo da praça expurgada, bem no centro de betão, há agora uma mulher de mármore nu, mãos ambas a cobrir o crâneo escalavrado. À volta, nem uma borboleta.

In O Caçador de Luas, pág. 74, Augusto Baptista