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terça-feira, 1 de outubro de 2013

TRAZER O TANGRAM PARA A RUA



                                                                 ©AB

Esta conversa com o designer André Cruz tem origem num acaso, suscitado pelo insondável desígnio dos livros. E centra-se numa campanha gráfica que, pelas mãos do designer, deu inesperada visibilidade pública ao tangram. 1
Indo aos factos, em 2008 publiquei e ofereci um livro de tangram 2 ao Marcos Cruz, meu amigo e companheiro de lides jornalísticas. Mais tarde, o Marcos emprestou a obra ao André, este a braços com a campanha gráfica do festival Primavera Sound-2013, urdida sob a égide do velho jogo com matriz oriental. O percurso dos livros e a cumplicidade com o tangram tornaram imperativo o nosso encontro, agendado para depois da lufa-lufa do festival. E após o nascimento de Aurora, a menina dos olhos de André. A conversa cumpriu-se no Porto, em Agosto, dia seis.

Texto: Augusto Baptista




                                                                                                @AB
Optaste por recorrer ao tangram, como resposta ao exigente desafio gráfico do último Festival Primavera Sound. Como te ocorreu a ideia?
A ideia surgiu-me pela necessidade de ter uma ferramenta de trabalho flexível, com múltiplas hipóteses visuais. E da feliz coincidência de haver sete notas básicas na música e o tangram ter sete formas, sete peças. O tangram é um sistema gráfico, um jogo visual que permite estabelecer um paralelo com a música.
E que permite múltiplas abordagens.

O festival é muito grande, tem centenas de materiais gráficos, centenas de aplicações, de derivações. Nunca se pode, num trabalho destes, dizer simplesmente, vou fazer um cartaz para o festival. Não é possível, não há um cartaz, há vários cartazes, vários livros, brochuras. Com a internet então há muitas aplicações diferentes e há necessidade de criar um sistema flexível, uma família gráfica. E o tangram apareceu como solução, ferramenta mais do que testada, mais do que experimentada, e excelente para trabalhar o que eu queria.


                                                                   Porto/Av. Boavista @AB
Em miúdo tiveste contacto com o jogo?
Tive, mas, honestamente, nunca lhe dei muita importância. Conhecia, não tinha proximidade.
O meu amigo Marcos Cruz disse-me ter-te emprestado os livros que eu publiquei sobre o tangram, concretamente o TangramArt. Isso ajudou-te no trabalho?
Ajudou bastante. Quando tomei contacto com o livro já tinha decidido o caminho a seguir, já tinha escolhido o tangram como solução, já tinha inclusivamente feito alguns materiais. Em conversa, o Marcos lembrou-se do teu livro, que eu já conhecia mas não o tinha, e emprestou-mo. Foi uma ajuda, na medida em que eu sou um aprendiz no tangram. Na música tenho destreza técnica, no tangram não tinha. Acho que são precisas muitas horas a brincar com o jogo, a experimentar, a errar, a fazer; são precisas muitas horas para conseguir dominar a ferramenta. O que o livro conseguiu foi abrir-me o espectro de soluções à minha disposição. Eu estava a cair, por inexperiência, sempre nos mesmos caminhos. O livro, pela diversidade, abriu-me o leque de opções e foi uma peça importantíssima no desenvolvimento do resto da identidade do festival.
Após o festival, do que te foi dado ver e perceber, achas que – no teu grafismo – as pessoas identificaram o tangram?
Voltando atrás, podia ter escolhido inúmeras outras soluções gráficas Podia eu próprio ter criado um jogo. O meu raciocínio foi: isto é um festival, é popular (apesar de ter um carácter independente, música alternativa, é popular), é para massas (talvez mais formadas, com algum conhecimento, porque é uma música mais específica, mas  é para massas), se houver um reconhecimento formal do que está ali, melhor. As pessoas identificam-se e aderem mais facilmente, aquilo chama-lhes mais a atenção, faz um clic para algo que elas já conhecem. E tal aconteceu com o tangram. Por isso não criei uma coisa nova, que ia demorar muito mais tempo a ser conhecida ou reconhecida. O que aconteceu com a utilização do tangram, acho que ninguém ficou sem saber o que era, o que aconteceu foi haver gente a falar-me no origami, Ah, vi o teu origami, e eu corrigia sempre, É tangram, origami é outra coisa.
                           
                                                             @AB
As pessoas estão mais familiarizadas com o origami.

Muita gente falava no tangram, mas o origami talvez esteja mais presente no imaginário colectivo. Outra coisa curiosa que aconteceu foi muita gente pela internet, muita gente que eu conheço, começar a enviar-me coisas que ia vendo. Por exemplo, no meu aniversário, enviaram-me um bolo feito de tangram, o que é engraçado. Começaram a associar o jogo a coisas do quotidiano. Era o que eu queria também, o que indica haver ali um reconhecimento, Ok, isto é uma ferramenta, isto é um jogo que permite brincar com tudo. Podemos construir palavras, letras, com as formas do tangram. Que isso foi uma das abordagens que eu não fiz, mas quem sabe para o ano posso explorar mais a questão de construir letras com as formas do tangram. Pode-se fazer tudo. São ilimitadas  as hipóteses que o tangram nos abre. E as pessoas reagiram muito bem.
                                                    @AC
                                         @AC

Em termos de jogo, o tangram é apresentado em silhuetas monocromáticas, frequentemente numa conjugação minimalista, preto e branco. Tu foste para a explosão colorida: amarelos, vermelhos, rompeste com o classicismo, com a tradição. Também as tuas figuras, pelo menos as que apareceram, não obedecem ao figurativismo costumeiro, nem propõem problemas, não propõem enigmas para resolução. Foste para uma desconstrução do jogo e, no fundo, libertaste-o de regras, de objectivos. Um tanto: sendo tangram, deixou de o ser. Um percurso transgressor?
A explicação para isso é a irreverência de muita da música que é tocada no festival. Se eu me limitasse às soluções clássicas do tangram não me ia sentir bem com isso, ia reproduzir algo, ia dizer algo de uma forma mais serena, mais conservadora. E não era esse o objectivo. Quem conhece o festival entende bem, isto não se limita a ser um festival de Verão, é uma experiência com um lado lúdico, as pessoas são bem tratadas mas também são postas à prova, são questionadas ao visitarem o festival. Foi isso que eu procurei explorar visualmente com o tangram.
Tive a preocupação de fazer uma coisa: nenhuma das  formas que usei é rígida, ou seja, nenhuma tem linhas rectas. Pintei à mão as formas, sem grelha. Comecei por fazer a base: o quadrado formado pelo tangram. Era a única grelha que tinha. E ali pintei livremente as formas do tangram. Foram essas as peças usadas, peças mais toscas, mais livres, menos rígidas. Depois aparece o lado da música, o modo como eu as conjuguei é livre, é... Ninguém me impede de conjugar um dó com um dó sustenido, ou um dó com um si, que dá uma dissonância, não há regra que me impeça de fazer isso.
Tive exactamente o mesmo pensamento com o tangram, ou seja, não há regra que me impeça de pôr uma peça por cima de outra, criar uma segunda cor pela sobreposição das duas formas de tangram. Isto para um festival indie, alternativo, é uma coisa interessante, mais rica do que a solução óbvia e rotineira. Não estou a dizer que o meu festival é espectacular, mas quase todos os festivais de Verão têm imagens pobres, muito ligadas às marcas que os patrocinam. E aqui conseguimos fazer uma coisa mais interessante, mais lúdica.


                                                     @AC
                                        @AC
                                      @AC
                                              @AC
                                             @AC
Também não foste pelo caminho da predação de figurinhas já criadas, que tiveram outros criadores, fugiste a esse perigo, a essa tentação.
A meio do processo fui acusado de plágio porque houve alguém na Coreia que usou o tangram para fazer uma coisa para música e, curiosamente, as cores eram semelhantes. Que culpa tenho eu disso. Eu não conhecia aquele trabalho. O jogo é universal, não tem patente, qualquer pessoa pode usar o tangram. Aquilo que estava feito não tem nada a ver com o que eu fiz. Agora, para quem não conhece, para quem não tem informação sobre o que é o tangram, se calhar cai nesse pensamento. Quanto às figuras, pareceu-me mais interessante fugir a conjugações já formuladas por outros e partir para um caminho mais livre.
                                                        @AC
O jogo interessa-te como ponto de partida para derivas criativas, não como enunciação de problemas para o destinatário matutar, para descobrir como aquilo se resolve. Aliás, se não erro, algumas das tuas figuras integravam mais do que sete peças e todas as figuras denunciavam as junções...
Eu a dada altura tive de fazer uma grelha. Houve uma grelha com um tamanho enorme para poder ali articular as formas do tangram com algum nexo. Senti necessidade disso para alguns materiais, para outros foi liberdade total e foi alongá-los, sempre sem distorcer, aumentar uns, reduzir outros, ou seja, uma anarquia em relação às regras do jogo. Exactamente como na música, as sete notas derivam em inúmeras coisas: posso tocar um dó durante meia hora e no meio usar outras notas e sobrepô-las e quebrá-las. Há liberdade. E é essa liberdade que, para mim, tem mais interesse na música. Tentei passar isso para o tangram, para o modo como o usava.
                                                                          @AC

Na música, sete notas; no tangram, sete peças em deriva visual, musical...
Pensando no que pode acontecer num festival em termos musicais, desde improviso,  ruído, harmonia, melodia, ritmo, pensando em todas as hipóteses musicais que possam surgir num festival deste género. Eu tentei transpor isso para o papel, para o campo gráfico. E o tangram foi a melhor coisa que me pareceu para poder fazer esse exercício.
                                                                      @AB
De qualquer modo tu, estritamente num triângulo ou num quadrado, não vês um dó, um ré, um mi... Ou vês?
Não. Pensei em fazer isso, pensei em ser rigoroso a esse ponto. Mas não ia ganhar nada. Um dó pode ser um dó tocado na escala dos graves, uma oitava acima..., e o mesmo dó pode assumir vários graus, e do grave ao mais agudo. Era difícil estar a fazer isto, rigoroso, num tangram. E não me pareceu que desse melhor resultado, ou mais consistência à ideia.
Pelo que percebi tencionas - ou pelo menos admites - reincidir?
Admito. Mas acho que não depende de mim, acho que há coisas a serem resolvidas. Isto também foi aplicado em Espanha e penso que lá vamos por outro caminho. Aqui ainda está em fase de decisão.

                                                                @AB
Naquilo que foi esse esgaçar do jogo, das figuras, das peças, também houve um esgaçamento de cores.
Nas cores entram os patrocinadores. Houve uma base a ser respeitada: o laranja da Optimus. E eu procurei a esse laranja acrescentar outras cores... ou seja, não encarar o patrocinador como um constrangimento, mas subverter isso. Ok, é a partir do laranja que eu tenho de trabalhar, a partir daí o que fica bem, o que conjuga com o laranja? E foi somar cores que funcionassem em harmonia com o laranja. Depois as peças cada uma foi assumindo uma cor. Dentro dos padrões de tangram que eu construí, criei padrões de cor e coisas mais fluidas. A cor foi fundamental para fazer esse exercício dentro dos padrões gráficos que eu tinha desenvolvido.
A partir das formas criaste padrões e depois usaste as cores também para baralhar, para tornar mais despenteada a composição?
Em alguns materiais eu quase criei percursos. Em Lisboa, havia um expositor com trezentos metros, uma coisa gigantesca, em que aí, como tinha mais espaço, pude brincar mais. Com uma base de tangram amarelo, criei percursos com cor, dando às forminhas do tangram cores diferentes. E aquilo abria caminhos, feixes de cor dentro daquela base. A base era sempre a mesma: uma grelha criada pelo tangram; a cor é que permitiu criar padrões diferentes.

                                                    Lisboa @AC
Relativamente ao tangram, já como jogo para miúdos e adultos, o tens em boa conta? Por outras palavras: vais dar um tangram à Aurora?
Sim, sem dúvida darei. Quando ela tiver idade para brincar com o tangram, de certeza absoluta darei, pelo lado desafiante de formulações mentais e pela capacidade de visualização do espaço e de construção figurativa. Nós temos uma amiga com uma filha de dois anos e o tangram, através do trabalho que eu fiz para o Primavera Sound, passou a ser para a miúda um jogo inseparável. Ela passava com os pais na Avenida da Boavista, via os patinhos do André, era o que ela dizia quando olhava para o painel, depois percebeu que podia fazer os patinhos dela, ou o que quer que fosse, com a ajuda do pai e da mãe. Para ela foi incrível. Ela que não brincava com o tangram passou a fazê-lo. É engraçado saber que contribuí para que aquela pequeníssima pessoa tivesse contacto com o tangram. Certamente há mais casos, acabamos por ter um leque reduzido de contactos. Este trabalho teve muita visibilidade no pais todo, e com a internet foi divulgado por todo o lado, é difícil perceber o impacto.

                                                              @AB
Uma boa recompensa por teres trazido o tangram para a rua?
Foi importante para mim que as pessoas percebessem que aquilo era tangram, eram as peças do tangram, mesmo sendo pintadas, mesmo sendo uma desconstrução, foi importante que se percebesse que a base de toda aquela comunicação vinha de um jogo chinês com duzentos anos. Isso foi importante e isso passou, penso eu.
Jogo antigo, mas actual, contemporâneo.
O que teve muito peso na escolha do tangram foi a sua riqueza de opções. Com tangram podemos fazer desde padrões, a tipografias, casas, cidades. Podemos construir tudo com estas peças geométricas. Sem que nenhuma das peças tenha curvas, podemos fazê-las, ou pelo menos podemos induzi-las, como é mostrado nos teus livros. Essa riqueza é fascinante. Num mundo em que tudo tem de ser complexo, tudo tem de ser sofisticado, tudo tem de ser high tech, é incrível como estas coisas são realmente um resumo da vida, a simplicidade.

                                             @AC

Notas
1.           Tangram é um velho jogo de origem chinesa formado por sete figuras geométricas (cinco triângulos, um quadrado, um paralelogramo), que se podem conjugar em composições muito diversas. Estas composições, publicadas em silhuetas com ocultação das linhas de contacto, para além da poética visual que carregam, são enigmas para os destinatários recriarem com as peças do puzzle. Enquanto jogo, o tangram pressupõe a utilização das sete figuras na composição de cada problema, deitadas e sem se sobreporem. Com tangram, provadamente, Napoleão entreteceu o  tempo de exílio na ilha de Elba. Com tangram miúdos e crescidos hoje continuam, nas asas do jogo, uma viagem de séculos.
2.           Sobre o tema, publiquei: TangramArt, TangramDesign, TangramCats, Tangram-Humanas Figurações.


Entre o design e a música
- confissões de André Cruz

                                   @AB

Tenho 32 anos, nasci em 1981, filho de pais jovens, inteligentes, que me ajudaram a perceber o mundo. Nasci no Porto, em Cedofeita, vivi em S. Pedro da Cova, terra mineira, até aos 12 anos, que o meu pai é de lá. Depois fui viver para Ovar. Aos 18 anos voltei ao Porto, para estudar design gráfico.
Desde muito cedo comecei a tocar e a ter um interesse enorme na música. E achei que ia ser músico, até perceber que estava em Portugal. Quando percebi onde estava, optei por fazer as duas coisas, design e música.
Sempre tive um grande interesse nas artes visuais, induzido pela música: em miúdo ficava horas a olhar para as capas dos discos de vinil dos meus pais. E fui parar ao design gráfico em consequência da música. Decidi tirar o curso de design gráfico e, paralelamente, continuar a tocar. E foi até depois do curso tirado que tive, se é que se pode chamar assim, alguma notoriedade com uma banda: Sizo. Tocámos em festivais: Paredes de Coura, lá em baixo no Optimus Alive. Tivemos um pequenino começo com alguma notoriedade e depois o volume de trabalho em design gráfico aumentou e comecei a deixar de ter a mesma disponibilidade. Preferi acabar com a banda do que arrastar uma coisa que não me estava a dar prazer.
Uma vez formado em design (na ESAD, Escola Superior de Artes e Design, Matosinhos), ainda estive um ano parado, a perceber o que ia fazer. Concretizei alguns trabalhos como freelancer. Trabalhei na R2Design, depois na Experimenta Design, na Bienal de Design, em Lisboa, depois com um professor meu, João Faria, designer no Teatro Nacional S. João. No fim de 2006 tive um convite para integrar a Casa da Música e trabalhar com o Stefan Sagmeister, autor que desenvolveu a identidade gráfica da Casa da Música. Na altura eu tinha 25 anos e achei que aquilo era óptimo para mim, e foi óptimo para mim, claro. E estou na Casa da Música desde  então. O Stefan é uma rock star do design gráfico, uma figura muito conhecida no design de autor, numa vertente artística, mais de trabalho pessoal.
Além da Casa da Música tenho tido trabalhos paralelos: só concretizo os que me dão gozo, como o caso do Primavera Sound. E também faço música.
Quando entrei na Casa Música, a música audível ficou subalterna. A música visual passou a ter um papel preponderante. Eu acho, isto é sempre um bocadinho subjectivo, acho, por muita mágoa que tenha, ter mais jeito para a música visual do que para a música tocada. Tenho destreza musical, técnica, não sou um compositor brilhante, acho-me mais capaz de compor visualmente, graficamente, do que musicalmente. Esta convicção também me ajudou a encarar a diminuição da importância da música tocada na minha vida. Neste momento, faço música por necessidade pessoal.
Na banda, era eu que compunha a maior parte das músicas. E também toco guitarra, principalmente. Mas nunca fui, sei lá, um Bob Dylan: tecnicamente fraquinho, musicalmente brilhante.  Eu não tenho esse lado, tenho o lado técnico.
Na área musical sempre fui um autodidacta. Foi por mim que aprendi, ouvindo músicas e tentando tocar na guitarra, dava uns toques noutros instrumentos. Mas sempre fui autodidacta: comprava revistas que ensinavam umas coisas. Chego à música muito antes do design, como disse. Comecei a tocar guitarrra aí com 11 anos, a ouvir Jimi Hendrix e a tentar fazer igual.
A minha preocupação principal é só a música. Para mim é estranhíssimo que as pessoas dêem mais importância à letra, ao poema, do que à música. Desde muito pequeno que só ouvia a música, não queria saber da letra. Se calhar só ouvia a música porque as letras eram fraquinhas. Mas sempre me interessou muito mais a música do que a letra. E há certas músicas que a algumas pessoas sem formação musical dizem muito pela letra, que me passam ao lado. É uma deficiência minha, estou atento aos pormenores rítmicos, aos pormenores harmónicos, aos pormenores melódicos, e a letra é secundária. Às vezes tenho pena.
Na forma como ouço música faço associações visuais. A música acaba por influenciar mais o design gráfico do que o inverso. Os padrões rítmicos, os padrões melódicos são para mim muito mais fáceis de traduzir graficamente do que o oposto, ou seja, pegar numa imagem e representá-la musicalmente.
Curioso, enquanto na música a letra é subalterna, dispensável, na articulação visual preciso do conteúdo, preciso da palavra e da mensagem. Trabalhar graficamente um oi, uma palavra muito básica, muito simples, com um conteúdo muito reduzido à partida, é um desafio. É um desafio dar expressão a este oi. É um bocadinho a poesia das formas tipográficas, embora um A sozinho não seja tão rico como trabalhar uma frase. É como fazer vários exercícios tipográficos com expressões, por exemplo com frases, citações de autores. É comum fazer jogos tipográficos e aí, claramente, o conteúdo da mensagem define o aspecto formal. Para mim é quase uma responsabilidade moral não deixar que a estética se sobreponha ao conteúdo da mensagem.

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