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sexta-feira, 25 de junho de 2010

Cavalgada

A tarde escalda. Silenciosa, a matilha abandona o mercado e galga sem pressa a ladeira. São uns nove, talvez mais, entre homens e mulheres. Elas: saia sobre o comprido, casacão, lenço na cara; eles: grossa samarra, bota de atanado, gorro de lã.

Gente estranha.

Alcançado o cocuruto, sentam-se na escadaria. Dali perscrutam os automóveis, o casario e, longe, negros, os montes que os incêndios consumiram. Avaliam o lugar, cochicham. Um ensaia pedir esmola a um sujeito, de passagem. Outro, curioso, vai espreitar as estreitas e fundas aberturas, os sulcos, que rasgam a rua em duas longas paralelas.
Não tarda, agachados, todos espiam a profundidade, a alma da frincha. O mais engenhoso esgrime um arame comprido, ponta em gancheta. E partem animados no garimpo, rua abaixo.
Empresa a meio, travam de repente. Entreolham-se numa hesitação fugaz e, como meninos, estridentes gargalhadas, vão todos a correr montar um cavalinho de pau, abandonado.
Augusto Baptista

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